quinta-feira, 7 de abril de 2011

Emoções x saúde:comprovação científca

Emoções exercem influência sobre a saúde, especialmente a do coração
Por Carla Prates
(Especial para o UOL Ciência e Saúde)  
Muito alardeada nos últimos anos, a influência dos sentimentos sobre a saúde vem sendo comprovada por uma infinidade de pesquisas científicas. Os estudos mostram que tanto as emoções positivas como as negativas podem atuar no surgimento de doenças ou preservar a saúde e, ainda, interferir nos tratamentos.

Segundo o médico Mario Alfredo de Marco, coordenador do serviço de atenção psicossocial integrada em saúde da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), entre as emoções mais nocivas ao organismo estão a frustração, a raiva e o ódio. “Por outro lado, tem a pessoa deprimida, desanimada, desmotivada também, cujos sentimentos podem influenciar (em conjunto com outros fatores de risco) o surgimento de algumas doenças”, esclarece o médico.


Em contrapartida, estudos revelam a cada dia a força das emoções positivas. Felicidade, otimismo e fé (espiritualidade) agem como um escudo contra as doenças.




“As pesquisas avançam regularmente. Foi até criado o termo ‘psiconeuroimunologia’ para definir o ramo que estuda as relações entre as emoções, o sistema nervoso e as funções orgânicas, como a imunidade”, revela a professora de fisiologia humana Roberta de Medeiros, do Centro Universitário São Camilo.
Ela afirma que estudos mostram a cada dia que somos seres absolutamente integrados e que emoções e pensamentos influem na química, nos hormônios e no funcionamento do sistema imunológico e vice-versa. Atualmente, já é possível demonstrar, por meio da fisiologia, como o comportamento de células e os neurotransmissores (mediadores químicos), entre outros, são afetados pelas emoções.
Outros culpados
De modo geral, os sentimentos podem exercer influência sobre o colesterol, o metabolismo (sobretudo interferindo na obesidade), as doenças coronárias, a hipertensão, os problemas gástricos e de pele, o sistema imunológico e as produções hormonais. Mas os médicos pedem cautela na relação entre emoções, estresse e doenças.
O coordenador da Unifesp explica que a emoção não é a única responsável pelo surgimento de uma enfermidade. “Um conjunto de fatores colabora para a formação da doença, entre eles a genética, os aspectos biológicos, psicológicos e sociais e as disposições do indivíduo”, explica.
Para exemplificar, o médico cita o mecanismo da gripe: “ter o vírus é a condição necessária para se ter gripe, mas não suficiente. Há também a resistência do organismo e os fatores alimentares que podem estar envolvidos no surgimento da doença”. Essa integração também vale para transtornos do humor. “A depressão é uma alteração dos neurotransmissores, mas que acontece em função das emoções que uma pessoa experimenta (ou vice-versa)”, acrescenta.

O médico chama a atenção para o fato de as emoções não serem vividas apenas na cabeça, mas também no corpo. Ou seja, elas geram uma resposta fisiológica. “Por exemplo, quando você fica com raiva, a pressão sobe e o sangue circula mais rápido”, descreve. Isso torna o organismo mais suscetível às doenças.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Queda para o alto

Do parapeito da janela ela olhava os carros passando e as gotas de chuva dissolvendo-se nos parabrisas naquele domingo sombrio. Cada gota caia numa velocidade incrível, vindas de um céu negro, fechado onde passado e presente se encontravam.
Ela esperaria? Pagaria o preço? Viveria cada momento preocupando-se com as contas vencidas, trabalho, família, com os desafios ainda por vir, rumo ao desfecho tão temido, mas também tão aguardado pelo ser humano? Continuaria à espera da única verdade que a humanidade ainda teima em desmistificar, sem êxito? Sim, ela poderia dar um passo para trás, viver cada dia como se fosse único, acordar todas as manhãs e contemplar o sol no horizonte, enxergar a centelha divina em cada pétala de flor ou no olhar de uma criança. Mesmo não sabendo responder aquela pergunta que a atormenta e ainda incomoda milhões de pessoas.Aquela pergunta que surge num momento de distração, quando ela se ve  sozinha consigo mesmo, num breve segundo de solidão. Um espaço vazio em sua mente que continua lá por anos a fio, esperando para ser completado.
É. Mesmo não sabendo a resposta viveria para fazer parte desta história onde ela, por incontáveis vezes, se achou manipulada tal qual uma marionete, sendo motivo de risos e desdém por parte dos Deuses que acompanham cada passo, para em seguida lhe tirar os poucos momentos onde encontra um sentido para tudo.
E riem da suas lágrimas, da sua impotência ante ao poder de controlar o presente e o futuro, num embate desleal onde ela tem a seu favor apenas a esperança e a vontade de recomeçar todos os dias.
Sim, ela daria um passo para trás.

O rosto da dor

Imagens dançavam em sua cabeça, fruto de um sonho, de uma noite em claro, de uma existência medíocre. Sentimentos contraditórios, ela admitia.
Como uma pessoa pode ser tão boa e ao mesmo tempo tão ruim?
Naquela manhã de janeiro quando ouvia o canto dos pássaros, o cheiro da grama ainda molhada pelo orvalho da noite anterior e as flores sendo acariciadas pelo sol, ela questionava como poderia sentir-se tão incompleta.
- Mas o ser humano é incompleto e está em busca da sua verdade, algo que dê sentido ao vazio, dizia o homem de cabelos vermelhos, sentado ao seu lado.
Sua pele branca contrastava com os cabelos cor de fogo. Um sorriso cristalino de dentes perfeitos a provocava. O olhar negro, penetrante e ao mesmo tempo tão doce invadia sua alma a olhava nos olhos.
Ela poderia não dizer nada. Não era necessário. A angústia, a tristeza e as dúvidas em seu coração a torturavam. Os remédios já não faziam efeito, na verdade nunca iriam curá-la da dor que sentia na alma. E sua alma estava atormentada naquela manhã de verão quando o mundo parecia perfeito. As crianças brincavam, os pássaros voavam e os carros paravam no faról vermelho. Toda engrenagem funcionava, pensava ela, e tudo estava onde deveria estar, cada coisa em seu lugar.
- Não. Cada coisa está no lugar onde você acha que está. O que a torna tão especial para mim não é o suposto poder de manipular o destino, que acredita possuir, e sim a sua fraqueza em pensar que está no controle. Você não está. Na verdade nunca esteve.
Por uma fração de segundos ela ignorou sua presença, desviou o olhar para as gaivotas que voavam alinhadas rumo ao horizonte. Sentiu o vento beijando seu rosto, tocando seus cabelos. O calor daquela presença a inflamava.
A dor tinha um rosto de traços suaves, voz doce e estava ali...ao seu lado. 

Déjà VU

Os cachorros latindo na rua, os gritos daqueles que buscam, de alguma forma, acordar Deus para que ouça suas preces, o barulho dos carros desacelerando pra fazer a curva, um ou outro bêbado esquecido na rua conversando consigo mesmo em alguma língua estranha, a TV jorrando imagens em sua mente. E tudo que ela tinha era metade de um comprimido amarelo, um lenitivo para a dor naquela noite vazia.

Uma dor dilacerante invadia sua alma, a dor de se sentir perdida diante de rostos estranhos, vivendo uma vida que não era dela. Definitivamente Lilith não se enquadrava em nenhum dos papéis que vivia naquela sociedade decadente.

Na manhã seguinte, seu corpo ainda se recusaria a sair da cama. O melhor momento do seu dia era quando se entregava ao mundo dos sonhos, libertando-se  daquele corpo insignificante a que se via presa. E se via livre contemplando o universo, se deparando consigo mesma.

A cada noite surgia uma oportunidade de se recompor para reviver os mesmos ‘novos papéis’, tentativas frustradas a cada pôr do sol. 

Outro dia começa com uma infinidade de planos que a conduz para a mesma dor do amanhecer,  tal qual Prometheus que tinha seu fígado regenerado durante a noite, para ser novamente devorado por uma Águia ao amanhecer. Ou quem sabe Sísifo, que semelhante a Prometheus, empurrava eternamente uma pedra ladeira acima, que ao atingir o topo, rolava novamente para baixo e o ciclo recomeçava.

As alegrias são, na verdade, para Lilith, migalhas jogadas ao vento e apanhadas do chão, numa infeliz tentativa de reviver sensações, fantasias, momentos de luz. O êxtase, o prazer e a felicidade parecem reais quando as percebe refletidas nos olhos das pessoas, porém, naquela vida medíocre a que esta condenada tais sensações não passam de um Déjà Vu. Ela sabe que viveu aquilo em algum momento sombrio do passado, mas nesse  ‘hoje’, a solidão e o vazio imperam em todo o seu ser que busca desesperadamente uma saída para a ausência de vida em sua vida.