segunda-feira, 4 de abril de 2011

O rosto da dor

Imagens dançavam em sua cabeça, fruto de um sonho, de uma noite em claro, de uma existência medíocre. Sentimentos contraditórios, ela admitia.
Como uma pessoa pode ser tão boa e ao mesmo tempo tão ruim?
Naquela manhã de janeiro quando ouvia o canto dos pássaros, o cheiro da grama ainda molhada pelo orvalho da noite anterior e as flores sendo acariciadas pelo sol, ela questionava como poderia sentir-se tão incompleta.
- Mas o ser humano é incompleto e está em busca da sua verdade, algo que dê sentido ao vazio, dizia o homem de cabelos vermelhos, sentado ao seu lado.
Sua pele branca contrastava com os cabelos cor de fogo. Um sorriso cristalino de dentes perfeitos a provocava. O olhar negro, penetrante e ao mesmo tempo tão doce invadia sua alma a olhava nos olhos.
Ela poderia não dizer nada. Não era necessário. A angústia, a tristeza e as dúvidas em seu coração a torturavam. Os remédios já não faziam efeito, na verdade nunca iriam curá-la da dor que sentia na alma. E sua alma estava atormentada naquela manhã de verão quando o mundo parecia perfeito. As crianças brincavam, os pássaros voavam e os carros paravam no faról vermelho. Toda engrenagem funcionava, pensava ela, e tudo estava onde deveria estar, cada coisa em seu lugar.
- Não. Cada coisa está no lugar onde você acha que está. O que a torna tão especial para mim não é o suposto poder de manipular o destino, que acredita possuir, e sim a sua fraqueza em pensar que está no controle. Você não está. Na verdade nunca esteve.
Por uma fração de segundos ela ignorou sua presença, desviou o olhar para as gaivotas que voavam alinhadas rumo ao horizonte. Sentiu o vento beijando seu rosto, tocando seus cabelos. O calor daquela presença a inflamava.
A dor tinha um rosto de traços suaves, voz doce e estava ali...ao seu lado. 

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