Imagens dançavam em sua cabeça, fruto de um sonho, de uma noite em claro, de uma existência medíocre. Sentimentos contraditórios, ela admitia.
Como uma pessoa pode ser tão boa e ao mesmo tempo tão ruim?
Naquela manhã de janeiro quando ouvia o canto dos pássaros, o cheiro da grama ainda molhada pelo orvalho da noite anterior e as flores sendo acariciadas pelo sol, ela questionava como poderia sentir-se tão incompleta.
- Mas o ser humano é incompleto e está em busca da sua verdade, algo que dê sentido ao vazio, dizia o homem de cabelos vermelhos, sentado ao seu lado.
Sua pele branca contrastava com os cabelos cor de fogo. Um sorriso cristalino de dentes perfeitos a provocava. O olhar negro, penetrante e ao mesmo tempo tão doce invadia sua alma a olhava nos olhos.
Ela poderia não dizer nada. Não era necessário. A angústia, a tristeza e as dúvidas em seu coração a torturavam. Os remédios já não faziam efeito, na verdade nunca iriam curá-la da dor que sentia na alma. E sua alma estava atormentada naquela manhã de verão quando o mundo parecia perfeito. As crianças brincavam, os pássaros voavam e os carros paravam no faról vermelho. Toda engrenagem funcionava, pensava ela, e tudo estava onde deveria estar, cada coisa em seu lugar.
- Não. Cada coisa está no lugar onde você acha que está. O que a torna tão especial para mim não é o suposto poder de manipular o destino, que acredita possuir, e sim a sua fraqueza em pensar que está no controle. Você não está. Na verdade nunca esteve.
Por uma fração de segundos ela ignorou sua presença, desviou o olhar para as gaivotas que voavam alinhadas rumo ao horizonte. Sentiu o vento beijando seu rosto, tocando seus cabelos. O calor daquela presença a inflamava.
A dor tinha um rosto de traços suaves, voz doce e estava ali...ao seu lado.
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