segunda-feira, 4 de abril de 2011

Queda para o alto

Do parapeito da janela ela olhava os carros passando e as gotas de chuva dissolvendo-se nos parabrisas naquele domingo sombrio. Cada gota caia numa velocidade incrível, vindas de um céu negro, fechado onde passado e presente se encontravam.
Ela esperaria? Pagaria o preço? Viveria cada momento preocupando-se com as contas vencidas, trabalho, família, com os desafios ainda por vir, rumo ao desfecho tão temido, mas também tão aguardado pelo ser humano? Continuaria à espera da única verdade que a humanidade ainda teima em desmistificar, sem êxito? Sim, ela poderia dar um passo para trás, viver cada dia como se fosse único, acordar todas as manhãs e contemplar o sol no horizonte, enxergar a centelha divina em cada pétala de flor ou no olhar de uma criança. Mesmo não sabendo responder aquela pergunta que a atormenta e ainda incomoda milhões de pessoas.Aquela pergunta que surge num momento de distração, quando ela se ve  sozinha consigo mesmo, num breve segundo de solidão. Um espaço vazio em sua mente que continua lá por anos a fio, esperando para ser completado.
É. Mesmo não sabendo a resposta viveria para fazer parte desta história onde ela, por incontáveis vezes, se achou manipulada tal qual uma marionete, sendo motivo de risos e desdém por parte dos Deuses que acompanham cada passo, para em seguida lhe tirar os poucos momentos onde encontra um sentido para tudo.
E riem da suas lágrimas, da sua impotência ante ao poder de controlar o presente e o futuro, num embate desleal onde ela tem a seu favor apenas a esperança e a vontade de recomeçar todos os dias.
Sim, ela daria um passo para trás.

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